O artigo do Sr. Ricardo Velez Rodriguez, publicado no jornal O Estado de São Paulo, criticando o título de Dr. Honoris Causa concedido ao ex-presidente Lula, pelo Instituto de Ciências Políticas de Paris, foi extremamente deselegante com uma das mais importantes instituições Francesas, da Europa e, com certeza, do mundo.
O artigo peca por total falta de compostura científica, quando chama o Instituto de Ciências Políticas de Paris, de “casa de estudos” e total falta de desrespeito ao diretor da Instituição e seus membros, que, por unanimidade, concederam o título ao ex-presidente brasileiro, quando diz que o título “ou é uma boa piada ou fruto de tremenda ignorância”.
Ignorância? Dos cientistas do Sciences Po? De quem é a tremenda ignorância?
Talvez seja necessário esclarecer que Sciences Po forma a elite intelectual francesa, da qual saem muitos presidentes e ministros de Estado. A seleção para entrar no Science Po é das mais rigorosas e é preciso apresentar boletim escolar com as melhores notas, desde a maternal.
O Sr. Velez Rodriguez assina como Coordenador do Centro de Pesquisa Estratégica da Universidade de Juiz de Fora. Não disse sua formação ou especialidade em pesquisa. Mas a falta de rigor e o tom, francamente panfletário, do seu texto indicam a distância cultural do pesquisador de Juiz de Fora com a Instituição de Paris.
Terminado o artigo, pensei comigo mesma. Este é um artigo de cunho político e não científico. Sinceramente, o coordenador teria poupado, em muito, a sua Instituição se não tivesse associado seu nome a ela.
Uma presepada da qual o Centro de Pesquisa Estratégica da Universidade de Juiz de Fora poderia ter se passado. Como dizia minha mãe, para que tanto estudo?
O diretor do Sciences Po, Richard Descoings, já havia enfrentado o provincianismo de certa categoria de brasileiros, ao conceder entrevistas aos correspondentes da mídia nacional.
A jovem correspondente do Jornal O Globo, chegou a questionar Descoings do por que atribuir o premio ao Lula e não ao FHC. Um vexame! Elegante e culto FHC tem familiaridade com a Intelectualidade francesa e, com certeza, deve ter se sentido muito constrangido.
Outras questões, igualmente fora de propósito, foram feitas pelos jornalistas brasileiros, como, por exemplo, se o título fazia parte da política da instituição francesa de discriminação positiva.
Imagine! Os franceses cultos e cheios de espírito se deliciaram com ironias. A descompostura da mídia brasileira foi muito comentada na França e foi notícia nos jornais da Argentina.
Não se iludam, Jamil Chade, Sílio Bocanera e o saudoso Reali Júnior são das raras exceções, entre os correspondentes nacionais, que conseguem entrevistar pessoas de alto nível cultural sem causar vexame e desconforto, pelo pouco aprofundamento ou mesmo conhecimento dos temas tratados.
Já os franceses, como muitos brasileiros vivendo na França, têm na memória o período antes de Lula, quando o Brasil só aparecia na imprensa francesa associado às crianças de rua e à reputação de puta de suas mulheres.
Era uma imagem triste e difícil de ser revertida pelos expatriados brasileiros, por mais que lutassem por isso.
Foi da noite para o dia, com a chegada do então ministro das relações exteriores Celso Amorim, que as telas dos cinemas e da televisão francesa foram inundadas com publicidade associando o Brasil ao desenvolvimento, focando na indústria, com a Embraer, e na agricultura, com nossos vastos campos cultivados. Da noite para o dia os franceses começaram a falar em celeiro do mundo, se referindo á agricultura do Brasil.
Quem não tinha votado em Lula, logo reconheceu seu valor enorme na mudança da imagem do Brasil. Esse é um exemplo da política externa de Lula. Outra, de grande efeito, foi o pagamento da sua dívida com o FMI e o Clube de Paris. Sem falar no comércio que desenvolveu com os países do cone sul, muito útil nessa crise dos países ricos.
O Francês também sabe que uma das causas profundas da desigualdade social no Brasil é o conservadorismo e o preconceito ostentado por suas elites, tão bem representados pelo Sr. Velez Rodriguez. De fato, um dos maiores problemas da oposição brasileira não são seus líderes políticos, mas os seus eleitores, e sem dúvida o sr. Velez Rodrigues é um deles.
Dalva Teodorescu
São Paulo Capital