segunda-feira, 20 de junho de 2011

UM ARQUITETO PAULISTA EM CURITIBA

Por Paulo S. L. F. Silveira *


A arquitetura como expressão espacial da forma e conteúdo desenha a cidade nos seus mais diversos aspectos.

Nos textos críticos de Arquitetura sempre a busca de uma “Arquitetura com Identidade” é colocada como um fenômeno vivencial que vai sendo criado no dever social: daí que quando a atitude de “afirmação cultural” floresce em uma sociedade, é possível que cada arquiteto, ao enfrentar sua tarefa caso a caso, vá resolvendo integralmente seu problema arquitetônico.

O oposto dessa atitude, o que chamamos de uma atitude de “alienação cultural” é quando o arquiteto disfarça o edifício como “neoclássico”, por exemplo, negando sua própria realidade em vez de tirar partido estético das características locais exigidas por uma realidade coerente.

Muito me surpreendeu em Curitiba nas diversas visitas que venho fazendo no decorrer desses últimos dois anos a qualidade do espaço urbano que obviamente é complementado pelo bom desempenho do desenho arquitetônico dos seus edifícios.

Numa visão abrangente dos edifícios percebemos a preocupação dos arquitetos curitibanos em projetar suas obras tendo sempre em mente uma atitude de identidade cultural seja na generosidade espacial que a cidade oferece, seja com um aprendizado contínuo desenvolvido através da evolução social, mas que teve início provavelmente nos bancos das faculdades de arquitetura locais, daí a importância fundamental do ensino de arquitetura.

Ao contrário da cidade de São Paulo onde floresce a alienação cultural, pois o mercado exige fachadas neoclássicas que envelopam espaços contemporâneos, estabelecendo uma esquizofrenia total entre forma e conteúdo, Curitiba se coloca na vanguarda na atitude arquitetônica com pouquíssimos exemplos dessa arquitetura alienada.

Em Curitiba vemos bons exemplos de arquitetura quando percorremos a cidade. Eles não estão concentrados em locais de alto poder aquisitivo, e sim espalhados por todo o tecido urbano, dando um uso altamente democrático do bom desenho e da boa harmonia espacial contribuindo muito com a qualidade da vida urbana.

É evidente que o padrão cultural da cidade com seus museus, teatros, bibliotecas, centros culturais, influencie muito como agente social, a visão do mercado, fortalecendo arquiteturas com identidade, não deixando que o mau desenho estabeleça padrões.

No processo de criação estamos todos envolvidos: os arquitetos que projetaram os edifícios, os habitantes e os que viabilizaram sua realização - afinal, os edifícios não se constroem por si mesmos.


*Paulo S.L.F. Silveira é Arquiteto e Urbanista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário